Cobertura XIV Panorama Internacional Coisa de Cinema (Sábado, 17/11/2018)

Henfil

HENFIL_011-513x319Pessoas como Henfil estão no seleto grupo daquelas que nascem de tempos em tempos. Não me arrisco a chutar o número de anos, mas certamente são muitos. Tamanha produção, inteligência e audácia, comprimidas em um corpo, tristemente tão debilitado, vem esporadicamente ao mundo. Se não viessem com tal espaçamento o planeta seria outro, com certeza.

O filme traz uma exploração do personagem através de um esquema inteligente de alternação entre as imagens caseiras de Henfil e a produção de uma animação com os seus problemas, debates e questões que envolvem ,principalmente, a busca por entender o pensamento e o desenho do cartunista. Uma sacada interessante, já que a exposição da equipe somada as imagens mais íntimas, que fazem entender um pouco da alma inquieta e brincalhona do personagem, revelam bem quem ele era.

Um dado interessante, trazido pelo filme, por exemplo, é de que Henfil vivia em constantes altos e baixos, devido a sua doença (hemofilia). A morte, portanto, sempre estava em seu horizonte. Seu conteúdo, ácido, urgente e inquieto, era todo pautado nisso, dos diálogos que escrevia até o traço incompleto, minimalista e angustiante que possuía. Uma pincelada precisa de um homem que passou a vida inquieto.

Direção: Angela Zoé
Duração: 75′
País: Brasil
Ano: 2017

 

Clube do Otimismo

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A memória é triste por definição, já que as coisas mudam. Uma mudança radical, porém, entre a existência e a não existência, traz uma melancolia profunda. Em clube do otimismo experimentei este sentimento. Vi o sonho de uma pessoa ser transformado em migalhas e o tempo, com sua crueldade impessoal, transformar um espaço utópico em um banal e tedioso edifício comercial. Edifício este que abriga pessoas interessantes e que guardam uma relação próxima com o passado que só é possível ser avistado por ruínas e restos de algo que existiu um dia.

Essa dualidade, entre o atropelamento da história pelo sistema e a sua celebração pelas pessoas que vivem nesse sistema é interessante e fala do Brasil atual que, infelizmente, transformou esta prática em realidade. Essa riqueza temática é apresentada com o vício formal característico do cinema Brasileiro de festival contemporâneo: planos longos, edição de som preguiçosa (com seus sons que remetem ao passado, presente em 3 de cada 5 curtas que vejo em festivais) e abordagem naturalista. Uma forma banal para um tema interessante e forte. 

Direção: Lívia Arbex Silvia Ribeiro
Duração: 20′
País: Brasil
Ano: 2018

 

Cobertura XIV Panorama Internacional Coisa de Cinema (Sexta-Feira, 16/11/2018)

Gritos e Sussurros

 

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É difícil para mim escrever algo sobre este filme visto que, no presente momento, quase que uma semana após ter assisti-lo, ainda penso nele e permaneço impactado pela misteriosa maneira de tocar que o filme apresenta. Coisa comum a todos os filmes de Bergman (pelo menos aos que assisti).

Não tenho nada a oferecer nesse texto, a não ser uma certeza: Antes de morrer, eu ainda re-assisto este filme.

Direção: Ingmar Bergman
Duração: 91”
Ano: 1972
País: Suécia

Mais e Melhores Blues

 

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Ás vezes a vida apresenta caminhos tortuosos e suas soluções, muitas vezes estranhas e imprevisíveis, fazem brotar coisas belas da miséria profunda. Como um Blues ou um Jazz, que só quem sente essa dor mais profunda consegue interpretar e realizar essa metamorfose. A maior realização de Bleek Gilliam, personagem de Denzel Washington no filme, talvez seja a sua sina: A voz esplendorosa e aveludada de Clarke ou futuro promissor do garoto Miles, qualquer uma das duas, o mundo agradece.

Ainda irei preparar uma crítica em separado para este filme.

Direção: Spike Lee
Duração: 129”
Ano: 1990
País: EUA

 

P.S. Sou imensamente grato ao Panorama pela oportunidade de poder assistir a esses filmes, me engrandece como pessoa e Cineasta.

Cobertura XIV Panorama Internacional Coisa de Cinema (Quinta – Feira, 15/11/2018)

 Falha Justa

 

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Aqui, somos apresentados a um linchamento sob o qual não sabemos as razões pelas quais os personagens praticam este ato. Tampouco sabemos quem são esses personagens.

O que sobra são os signos, que trazem uma riqueza de temática grande, já que por essa abertura construimos o significado em nossas cabeças. O adereço cor de rosa, o desespero da mãe e a provocação maliciosa no rosto do homem. Tudo isso revela um cenário de injustiça e uma vontade de vingança que permanece sempre a flor da pele.

A escolha formal, de descrever esta situação com câmera lenta e utilizar uma trilha que remonta a Wendy Carlos e o seu som aterrorizante e mecânico, trazem uma força maior a este panorama que é traçado. As reações humanas parecem estar sob uma lupa e a trilha destaca o que há de pior, tanto no suposto agressor, quanto na suposta agredida.

Direção: Dinho Negryne
Duração: 6′

 

 

Dr. Ocride

 

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Um bom filme e um fenomenal personagem.

Talvez fenomenal não seja a palavra adequada, mas é possível entender as qualidades do Euclides  Neto, conhecido pela população como Dr Ocride, a partir da descrição da sala de cinema após a exibição do filme. Soluços eram frequentes, rostos molhados de lágrima, em qualquer direção que se olhava e, algumas tosses podiam ser ser ouvidas, de pessoas que tentavam disfarçar a emoção.

Com isso pode-se imaginar a potência de uma figura que se entregou, de fato, para a povo e que não media sacrifícios para a população a quem dedicava tamanho amor. Figura em falta, nos dias atuais, e que é a verdadeira representação do espírito público mais puro, a verdadeira vocação cristã de se doar ao próximo e que é essencial a política.

Ver algo dessa natureza, mesmo em menor grau, é bonito. Porém, quando se é confrontado com a nobreza da entrega quase que total a este ideal, experimenta-se uma sensação etérea de admiração e gratidão por um trabalho que engrandece a humanidade como um todo. Um bonito filme sobre um homem que, com todas as contradições que se possa apontar, viveu sob este ideal.

Direção: Edson Bastos e Henrique Filho
Duração: 85′